terça-feira, julho 28, 2009

A maldição do pó


Por: Paulo Brabo

Tudo que o homem semear, isso não colherá.

A maldição do pó me persegue, e nada há que me livre dela. Quando penso que estou finalmente em pé, avançando a passos largos rumo a um alvo glorioso, descubro que estou de rosto no chão com a boca cheia de poeira.


Maldita é a terra por sua causa, Deus explica a Adão, e isso explica tudo. O homem terá de suar para extrair alguma produtividade de seu próprio solo estéril, e ainda assim, quando plantar frutas e verduras, essa terra insubordinada “lhe produzirá espinhos e ervas daninhas”.


O homem e a mulher não foram amaldiçoados, mas a terra da qual fomos moldados é declarada maldita. Todas as minhas iniciativas são frustradas e nada pode me salvar, porque o que precisa de redenção é minha matéria-prima. Planto sonhos e colho pesadelos. Semeio admiráveis intenções e ceifo minha própria mesquinhez. O mal que não quero, esse faço. Não passo de pó, e sou portanto meu próprio túmulo: tudo que o homem semear, isso não colherá.


A serpente, que não pode ser destruída de mim, é inseparável de mim nessa condição. O homem e a mulher não foram amaldiçoados, mas a serpente que nos seduziu é declarada maldita. Sua maldição é alimentar-se continuamente de nós: e pó comerás todos os dias da tua vida. O veneno da serpente, que se alimenta diariamente de mim e em mim, contamina e torna infértil tudo que toco. O terreno que piso torna-se deserto; minhas boas intenções são pó, e ao pó voltarão.


fonte: http://www.baciadasalmas.com/

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