Por: Leonardo Boff
Somos ignorantes, atrasados, inconscientes e irresponsáveis
Quem teve o privilégio de acompanhar a cúpula dos povos na ONU, de 24 a 26.6, para encontrar saídas includentes para a crise econômico-financeira, vivenciou dupla perplexidade. A primeira, o fato de se ter chegado a um surpreendente consenso acerca de medidas a serem implementadas a curto e a médio prazos. A segunda, verificar que tudo se concentrou apenas no aspecto econômico-financeiro, sem qualquer referência aos limites da biosfera e à devastação da natureza que o tipo de desenvolvimento vigente implica. Quer dizer, a economia virou um conjunto de teorias e fórmulas que expertos dominam e aplicam, esquecendo-se de que ele é parte da sociedade e da política, algo, portanto, ligado à vida das pessoas. Era como se os políticos e expertos não respirassem, não comessem, não se vestissem e andassem nas nuvens, e não no solo. Mas, para eles, tais coisas são meras externalidades que não contam.
Ao ouvi-los, pensava eu lá com meus botões: quão inconscientes e irresponsáveis são esses políticos, representantes de seus povos, que não se dão conta de que a verdadeira crise não é essa que discutem, mas a da insustentabilidade da biosfera e a incapacidade de a mãe Terra repor os recursos e serviços necessários para a humanidade e para a comunidade. Bem advertiu o ex-secretário da ONU Kofi Annan: essa insustentabilidade não apenas impede a produção e a reprodução, senão põe em risco a sobrevivência da espécie humana.
Todos são reféns da economia-zumbi do desenvolvimento, entendido como puro crescimento econômico (PIB). Ora, exatamente esse paradigma do desenvolvimento mentirosamente sustentável do atual modo de acumulação mundial está levando a humanidade e a Terra à ruínas. As pessoas são as últimas a contar. Primeiro, vêm os mercados, os bancos, o sistema financeiro. Com apenas 1% do que se aplicou para salvar os bancos da falência, poder-se-ia resolver toda a fome do planeta, atesta a FAO. A mesma FAO advertiu: existem 40 países com reserva alimentar de apenas três meses. Sem uma articulada cooperação mundial, grassará fome e morte de milhões de pessoas.
Discutir a crise econômica-financeira sem incluir as demais crises - o aquecimento global, a alimentária, a energética e a humanitária - é mentir aos povos sobre a real situação da humanidade.
Temo que nossos filhos e netos, daqui a alguns anos, olhando para o nosso tempo, tenham motivos de nos amaldiçoar e de nos devotar um soberano desprezo, porque não fizemos o que devíamos fazer. Sabíamos dos riscos e preferimos salvar as moedas e garantir os bônus quando poderíamos salvar o Titanic que estava afundando.
O Brasil, nesse sentido, é uma lástima. Se há um país no mundo que goza das melhores oportunidades ecológicas e geopolíticas para ajudar a formular um outro mundo, esse seria o Brasil. Ele é a potência das águas, possui a maior biodiversidade do planeta e as maiores florestas tropicais, tem possibilidade de criar uma matriz energética limpa, mas não acordou ainda. Nos fóruns mundiais, vive em permanente sesta política. Não despertou para suas possibilidades e responsabilidades face à preservação da Terra e da vida.
Ao contrário, na contramão da história, estamos construindo usinas à base do carvão. Desmatamos a Amazônia em 1.084 quilômetros quadrados entre agosto de 2008 a maio de 2009. E somos o quinto maior poluidor do mundo. O fator ecológico não é estratégico no atual governo. Somos ignorantes, atrasados, faltos de senso de responsabilidade face ao nosso futuro comum.
Ao ouvi-los, pensava eu lá com meus botões: quão inconscientes e irresponsáveis são esses políticos, representantes de seus povos, que não se dão conta de que a verdadeira crise não é essa que discutem, mas a da insustentabilidade da biosfera e a incapacidade de a mãe Terra repor os recursos e serviços necessários para a humanidade e para a comunidade. Bem advertiu o ex-secretário da ONU Kofi Annan: essa insustentabilidade não apenas impede a produção e a reprodução, senão põe em risco a sobrevivência da espécie humana.
Todos são reféns da economia-zumbi do desenvolvimento, entendido como puro crescimento econômico (PIB). Ora, exatamente esse paradigma do desenvolvimento mentirosamente sustentável do atual modo de acumulação mundial está levando a humanidade e a Terra à ruínas. As pessoas são as últimas a contar. Primeiro, vêm os mercados, os bancos, o sistema financeiro. Com apenas 1% do que se aplicou para salvar os bancos da falência, poder-se-ia resolver toda a fome do planeta, atesta a FAO. A mesma FAO advertiu: existem 40 países com reserva alimentar de apenas três meses. Sem uma articulada cooperação mundial, grassará fome e morte de milhões de pessoas.
Discutir a crise econômica-financeira sem incluir as demais crises - o aquecimento global, a alimentária, a energética e a humanitária - é mentir aos povos sobre a real situação da humanidade.
Temo que nossos filhos e netos, daqui a alguns anos, olhando para o nosso tempo, tenham motivos de nos amaldiçoar e de nos devotar um soberano desprezo, porque não fizemos o que devíamos fazer. Sabíamos dos riscos e preferimos salvar as moedas e garantir os bônus quando poderíamos salvar o Titanic que estava afundando.
O Brasil, nesse sentido, é uma lástima. Se há um país no mundo que goza das melhores oportunidades ecológicas e geopolíticas para ajudar a formular um outro mundo, esse seria o Brasil. Ele é a potência das águas, possui a maior biodiversidade do planeta e as maiores florestas tropicais, tem possibilidade de criar uma matriz energética limpa, mas não acordou ainda. Nos fóruns mundiais, vive em permanente sesta política. Não despertou para suas possibilidades e responsabilidades face à preservação da Terra e da vida.
Ao contrário, na contramão da história, estamos construindo usinas à base do carvão. Desmatamos a Amazônia em 1.084 quilômetros quadrados entre agosto de 2008 a maio de 2009. E somos o quinto maior poluidor do mundo. O fator ecológico não é estratégico no atual governo. Somos ignorantes, atrasados, faltos de senso de responsabilidade face ao nosso futuro comum.
Fonte: http://www.otempo.com.br/otempo/
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