sexta-feira, dezembro 25, 2009

Resgatador


“O Filho do homem não veio a terra para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos” – disse Jesus. As palavras “resgate,“redenção” são sinônimas de libertação na Bíblia, por que o próprio conceito de resgate esta atrelado a alforria da escravidão, à aquisição da própria liberdade. Como outrora Iahweh salvara Israel e dele fizera o “seu povo”, assim a Igreja da Nova Aliança deve torna-se o “povo que Deus libertou”.

Mas o resgate, ou, como dizem os cristãos, a redenção, é algo ainda maior, é o retorno da Criação ao caminho traçado pelo Alto. Prisioneira do mal, a Criação, segundo as palavras de Paulo, “sofre e geme à espera da manifestação dos filhos de Deus”. O homem redimido não é retirado da Criação, mas a precede no caminho para os “céus novos e a terra nova”.

A chama do logos arde “nas trevas”, juntando-se lentamente ao mundo. Ao nosso reino de luta e divisão, Deus leva a força vitalizante da unidade, da harmonia e do amor. Como uma planta que se ergue em busca do Sol, a natureza toda está atenta ao chamado da Palavra.

Quanto mais o homem moderno toma conhecimento do nascimento do universo, mais claro fica para ele o quadro da Criação que sobe para o Alto como pelos degraus de uma escada. Com efeito, antes foram fincadas as estruturas, depois se início a vida e finalmente nasceu o homem. A luta não conhece trégua, a cada passo a serpente retrocede nas trevas e o esplendor se amplia.

Quando o homem renegou o desígnio de Deus sobre ele, a mesma Palavra se manifestou encarnando-se no “NOVO ADÃO”.

“Deus amou de tal modo o mundo, que deus o deu filho único”. Mas esta auto imolação de Jesus não podia deixar de ser uma tragédia. Aquele que entrou a fazer parte do mundo corrupto tornou-se necessariamente co-participante do sofrimento dele; desde então, a dor de todo ser será sempre a sua dor, o seu Gólgota. Entre os homens, o filho de Deus não encontraria triunfos, mas o sofrimento e morte. Embora sendo sem pecado, ele tomou sobre si todas as conseqüências do pecado (...).

“Quem, pois, acreditará no que ouvimos? A quem se poderá revelar o poder de Iahweh? Ele brotou como um rebento diante do seu rosto, com uma vergôntea da raiz fincada na terra árida. Não possuía nem aspecto, nem imponência que nos atraíssem para ele, nem magnificência que nos fascinasse. Ele foi desprezado e repudiado pelos homens, homem das dores que bem conhece o sofrimento, e nós não tivemos por ele qualquer estima, pensamos que fosse um paria. Mas ele havia tomado sobre si as nossas fraquezas, carregava o peso dos nossos males. Nós o julgávamos atingido, castigado e humilhado por Deus e, no entanto, ele fora ferido pelos nossos pecados, fora espancado pelas nossas iniqüidades. Sobre si ele tomou a punição para nossa salvação, fomos curados por suas feridas. Todos nós estávamos perdidos, cada um na sua estrada, como ovelhas abandonadas, mas Iahweh tomou sobre seus ombros o peso dos nossos pecados. Atormentado, foi manso; em meio aos suplícios, não abriu a boca. Como um cordeiro”. levado ao sacrifício, com ovelha diante dos tosquiadores, ele também não abriu os lábios...”. (...)

Jesus explica a sua missão referindo-se exatamente a esta profecia sobre o servo de Iahweh: “HOJE SE CUMPRIU ESTA ESCRITURA DIANTE DE VÓS”. (...)

Por amor a liberdade do homem, ele se encerrou no cárcere de um corpo, tornou-se naqueles dias “inferior ao Pai”, precisou de alimento e repouso, escondeu a si mesmo o futuro e viveu em si todo sofrimento do mundo. Tornou-se carpinteiro de uma cidadezinha de província, cercado por gente ignorante que trazia amiúde marcas evidentes do pecado; passou os seus dias na companhia de pobres, excluídos, pescadores e leprosos. Ele não possuía corpo de guarda nem conselheiros influentes. Poderia aquele homem ser realmente o Messias que o povo havia sonhado e esperado durante séculos?

MIEN, Aleksandr, 1935-1990 - Jesus, mestre de Nazaré: a história que desafiou 2000 anos; pág(s). 173 a 175 . Ed. Cidade Nova, 1998.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Onde devo adorar?



Por: Joaquim Tiago

Quem faz parte da nova aliança, quem é o novo Israel de Deus?

O templo físico era referência de Deus sobre a terra no meio do seu povo. Em Jerusalém era o centro e foco sacerdotal dos sacrifícios pelos pecados. O foco das sombras que estava se apagando.

Havia uma revolução nos dias de Cristo na terra e por Cristo. A revolução do amor e dos milagres que estavam acontecendo fora do templo. Naqueles dias além da síndrome de outra destruição do grande templo, glória de Israel, advinda pelo medo dos novos dominadores, Cristo vem e traz uma informação importantíssima sobre um bom sinal e uma boa nova destruição do “templo”.

Ali em suas margens, havia crescido um comércio, uma feira, um covil de ladrões que é expulso a chicotadas pelo zelo do Mestre - “Aos que vendiam pombas disse: ‘Tirem estas coisas daqui! Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado’!” (Jo 2.16) – Os judeus aficionados por sinais logo lhe pedem um, para comprovar tal autoridade em agir, pois alguém estava atrapalhando os negócios.

O sinal é este: “Jesus lhes respondeu: ‘Destruam este templo, e eu o levantarei em três dias’.” (Jo 2.19) – Para os judeus que tipo de sinal poderia ser este? – “Os judeus responderam: ‘Este templo levou quarenta e seis anos para ser edificado, e o senhor vai levantá-lo em três dias’?” (Jo 2. 20). Que tipo de pessoa poderia fazer essa afirmação ameaçadora? Como poderiam saber sem crer que o mestre haveria de morrer e ressuscitar ao terceiro dia.

Noutra ocasião após um outro dialogo de sinais e boas novas com os farizeus, no mesmo lugar, já na saída em suas portas e escadas, um repente de encantamento junto a um passeio turístico em Jerusalém toma os discípulos para com Jesus, nas margens do templo. Após mostrarem para o mestre toda estrutura formosa e imensa (Mt 24.1) são surpreendidos com uma afirmação demolidora do Mestre: “Vocês estão vendo tudo isto?”, perguntou ele. “Eu lhes garanto que não ficará aqui pedra sobre pedra; serão todas derrubadas”. (Mt 24.2).

Isaias, o profeta messiânico já havia anunciado e Cristo Jesus foi realmente “esmagado por causa das nossas iniqüidades” (Is 53:5); o templo que é seu corpo foi destruído e só no terceiro dia foi “reconstruído”, ressuscitado com glória.

Dois fatos ocorrem posteriormente já nas ações apostólicas registradas por Lucas envolvendo o tão famoso templo. Umas dessas é cura de um mendigo que ficava a sua porta (At 3:6-19;) depois com toda revolução crescente ocorre o julgamento injusto e calunioso de Estevão em (At 7). Tudo piorou só por que o cara falou que Deus não habitava (e nunca habitou) em templos (casas) feitos por mãos humanas como já dizia os profetas. Os sacerdotes resistindo à ação do Espírito Santo e ao novo ensinamento que estava se espalhando, condena ao apedrejamento Estevão e persegue duramente os apóstolos.

Muitas pessoas estavam convertendo e indo também ao templo cumprir obrigações, outros ainda seguiam suas tradições judaicas. Porém por volta do ano 60 d.C, já com o domínio total do Império Romano a vida judaica foi oprimida levando a uma enorme insatisfação entre as pessoas o que gerava violência esporádicas. Até que se rompeu uma revolta. As forças romanas, lideradas por Tito, arrasaram Jerusalém por volta do ano 70 d.C e posteriormente derrotando o último baluarte judeu em Massada 73 d.C.

O templo foi destruído, a glória foi tirada de Jerusalém, Deus não habitava mais no templo que não mais existia. Onde Deus poderia estar habitando sem templo? Deus habitou em todos os tempos não em casas feitas por homens.


O novo tempo

Chegou à hora (e já passou da hora!) em que irão/iremos adorar o Pai em Espírito e em Verdade, não é mais Samária ou em Jerusalém, não existe mais um local pré-determinado.

Chegou à hora do exercício da verdade, do exercício do ser.

Como adorar a Deus e ser o seu templo no tempo de Narciso? “É que Narciso acha feio o que não é espelho...” (Caetano Veloso).

Como adorar a Deus num tempo sem Deus?

Como sacrificar tempo sem tempo para ser sacrifício vivo e diário para o Senhor?

Como ser adorador se o ser de hoje é possuidor, consumista? Como ser adorador no trabalho se estamos cheios de inveja, egoísmo, tentando levar vantagem, aproveitar da boa vontade do próximo?

Como ser adorador na segunda-feira e esquecer que domingo é religioso?

Como ser adorador e preocupar com a essência deixando que a forma se molde a fome de justiça?

Como ser adorador em um mundo contemporâneo cheio de templos e com tanta falta de templos vivos onde o Espírito Santo habita nos convencendo a cada dia quem somos e por que devemos mudar.

O fato é que construímos outros templos em tempos hiper-modernos!

O sacrifício do novo templo e da nova aliança é sua (minha) vida. Sem renovação/mudança de atitude não veremos a Deus (Rm 12:1,2).

Cartão de (DES)crédito



por: Joaquim Tiago

Satanás fez uma reunião no inferno para infernizar a vida por aqui; tiveram uma idéia: Criaram o CARTÃO de (DES)crédito, isso é o purgatório;

CARTÃO de (DES)crédito, isso é o purgatório, as pessoas sofrem no mar dos JUROS, e as financiadoras promovem a festa da realeza consumidora;

CARTÃO de (DES)crédito, já tem o seu? Passe em uma das agências de Satanáz e pegue também o seu passaporte para o purgatório neste mundo;

E o que os sofridos trabalhadores de lojas podem oferecer para poderem pagar seus sofridos cartões também é: (IN)dividimos ou INDIVIDAMOS você!

Saímos felizes com os produtos da ilusão de um purgatório infernal, vamos entrar brevemente nos círculos infernais de multas e rotativos;

Satanázzz, esta a solta aproveitando do Espírito Natalino. Cuidado! Neste natal pode nascer um monstro em suas sagradas boletas bancárias;


E para finalizar essa história suicida, pague para entrar e reze para sair, porque o aliado do inferno é o: SPC, ficha suja você será, hahaha!

Apêndice:

SPC significa: Satanázzz Pode Cobrar! Ele vai cobrar, não adiante chorar…

Satanázzz: Pai da mentira

(DES)crédito: Achei isso aqui na rede, clik

terça-feira, dezembro 08, 2009

Avalanche 2010


Missão Avalanche é uma organização criada para treinar cristãos a fim de atuarem de forma relevante na sua geração, objetivando alcança-lá, compreendê-la e redimi-la através da contextualização da Palavra de DEUS.


“Afiai as pontas das flechas. Preparai os escudos. Reforçai a guarda.
Colocai homens de sentinela. Colocai homens de tocaia. O Senhor jurou pela Sua própria vida que enviará guerreiros de longe e dará a vitória contra as muralhas da Babilônia.” (Jeremias 51:11-14
)


quarta-feira, novembro 25, 2009

apostasia cotidiana

por: Joaquim Tiago

Apostatar é uma ação de abandono do que se acreditava e não acredita mais. É como se não fizesse mais sentido crer no que se crer os crentes de uma religião, de uma filosofia ou de um grupo. Há muitos grupos de alguns que estão agindo desse forma em nossos dias. Outros tantos tem transferido sua fé para deuses contemporâneos, a começar pelo príncipe deste mundo, o capital financeiro, os valores monetários, a “bufunfa”.

O deus deste mundo egoísta consegue com muito mais “razão” e poder resolver os problemas dos que apostataram. O valor capital financeiro trouxe consigo a religião do consumo e o extremo do prazer imediato e sem compromisso, como a sensualidade e o sexo desregrado.

Existem novas religiões neste sistema, a religião do consumo é a filosofia do prazer. Os adoradores de si mesmo estão se poupando em tudo abandonado a fé na verdade para ter fé em si mesmo e nos deuses do espetáculo.

O que vc quer?

A fé não responde mais.

Nos temos uma para te vender.

“MAS o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;”
(I Timóteo 4 : 1)

sábado, novembro 21, 2009

A vítima e o opressor


Por: Joaquim Tiago

Vítima e opressor são dois lados de uma mesma moeda. Quem é vítima hoje pode ser o opressor de amanhã. Reproduzimos o que aprendemos, até como forma de identidade que temos e que somos.

Vivemos dentro de um sistema onde existem duas escolhas, ou são duas escolhas que nos oferecem para sobreviver. Aceitamos por imposição sermos vítimas ou nos tornamos opressores.

É assim que funcionam as instituições em boa parte do mundo corporativo, gente oprimindo gente, gente vitimando gente, as vítimas que um dia será também opressor do amanhã, é só experimentar ele, o poder. O poder corrompe por que o sistema é corrompido por ele. Tem gente querendo mandar porque já cansou de ser oprimido e o que ele sabe fazer como pessoa “esperta” é oprimir para que todos possam obedecer.


Como ser uma boa pessoa se todos querem ser mal?

Ser uma boa pessoa neste sistema perverso é ser vítima, lógico que nem toda vítima é uma boa pessoa, mas corre o sério risco de se tornar uma vítima do sistema. As pessoas que são vítimas hoje e não são boas numa oportunidade oprimirá alguém com inveja, por que ela quer ser o que o outro é, mas não consegue.

O mundo é um lugar oprimido por demais, infelicidade beira por todos os lados e mesmo quem não é vítima aos nossos olhos podem ser vítima de si mesmo, de um sistema ainda mais perverso que o corporativismo. E quem não tem um opressor no final da história coorporativa tem dentro de si o eu, a existência.

A não realização pessoal de quem não sabe o que é. Eu sei que sou mesmo cobrado e julgado pelo o que sou, ou por quem deveria ser. Oprimido por que ainda não sei ou se sei preciso fazer para provar que sou. Frustrações de quem não sou e nem realizei por saber que eu não sei se sou capaz. Quem me falou que sou capaz? Que certeza pode ter?

O opressor não esta satisfeito e quer mais, não valoriza e impõe que você só será quando produzir além do que você fez para ser. Para ganância isso não tem fim e nem reconhecimento. Que tipo de reconhecimento fazemos do outro? O outro não merece ser reconhecido a não ser por algumas “boas” palavras de consolo tais como: “você merece ou você é especial”.

Cristo nos ensina a amar a quem nos oprime (Mt 5.44), ainda pede pra fazer o bem e orar por eles. Não abandone o ensino de Cristo agora mesmo que pareça assustador. Eu sei que ser a vítima não é tarefa fácil, nem sei se devo chamar de tarefa, quanto mais algo que seja fácil. A vítima tudo sofre e tudo pode padecer.


Mas como vamos encarar nosso opressor e amá-lo?

Não fazendo parte ou sendo cúmplice da sua ação, não se tornando o mesmo. Assim encontraremos um inimigo forte a nossa altura, que é a nossa vontade, nosso desejo, meu querer, minha justiça e meu engano. Será que eu sei fazer justiça? Será que eu consigo justificar meus atos?

Eu não tenho que esta de acordo com meu opressor e nem ajudá-lo no que faz, mas não tenho que ser como ele em nada, tenho que saber de que lado da moeda estou.

Os evangélicos nestes dias estão sendo vitimados por um bando de mau testemunhos vindo de teologias do dinheiro, do eu posso, do relativismo, disso e daquilo. Mas como reagiremos?

Muitos discípulos de Cristo estão sendo injustiçados e vitimados em igrejas. Mas como reagir? A melhor forma que o sistema nos ensina é sermos também um opressor para sobrevivermos em um mundo oprimido.

Creio que quando Cristo respondeu aos seus opressores não foi buscando justiça própria, mas levá-los a entender e crer. Nem todos queriam ouvir a verdade porque não queriam deixar de serem opressores em nome da religião e do orgulho.

O mundo esta debaixo de um julgo pesado da economia, da exploração. O mundo é oprimido pelo desemprego, fome, guerra e muitas outras mazelas. São milhares de vítimas em muitos lugares e são milhares de opressores que abusam das vítimas para poderem lucrar nas mais variadas maneiras.

Os vitimados do sistema estão refém da sobrevivência, oprimidos pela grande mídia à não pensarem o que são. A grande mídia nos da um sonho de um dia ser também um bom opressor, e valorizamos os que “venceram”, os mínimos que chegaram ao topo da cadeia alimentar.

O sol esta se levantando sobre todas as pessoas, os maus e os bons, os justos e injustos (Mt 5.45). Cristo quebrou o ciclo da opressão sendo a vítima em nosso lugar e nos ensinando a não sermos opressores da mesma forma como foram com ele. Temos a Verdade de vida agora para o ser, para a vontade de agir não mais em justiça própria, mas justificados pela fé Nele.


Se não somos opressores, corremos o risco de sermos vítimas, os opressores estão em uma cadeia e as vítimas logo encontrarão liberdade.


“Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão?” (Mt 5.46a)

domingo, novembro 15, 2009

Jesus nunca foi gospel


Esta no ar o sítio: Jesus nunca foi gospel.
Uma análise crítica sobre esse mercado em constante crescimento.
No livro Ouça o Espírito Ouça o Mundo John Stott nos fala das várias transformações de figuras que deram para Jesus ao longo da história. Nos dias atuais estão pintando Jesus como um ótimo empresário e um belo garoto propaganda. Por isso não deixe ler e acompanhar o sítio: Jesus nunca foi gospel.
Parabéns ao Markeetoo

quinta-feira, novembro 05, 2009

Com a ciência e a tecnologia, homem está querendo ser Deus


Por: Leonardo Boff


Ser humano jamais superará os limites de sua natureza

Rose Marie Muraro é uma mulher impossível. Com extrema limitação de vista e de saúde, escreveu 35 livros e editou cerca de outros 1.600. Foi pioneira do feminismo brasileiro. Seu estudo sobre a sexualidade da mulher brasileira se transformou num clássico, seja pela metodologia, seja pelas categorias de análise.

Formada em física, sempre se preocupou com a tecnologia e sua incidência no destino humano. Agora, no avanço dos anos, e após muitas pesquisas manejando mole imensas fontes, nos entrega um livro-síntese: "Os Avanços Tecnológicos e o Futuro da Humanidade: Querendo Ser Deus?", publicação da Editora Vozes, de Petrópolis, da qual foi diretora editorial.

O subtítulo "Querendo Ser Deus?" define a perspectiva de sua análise e, ao mesmo tempo, faz ecoar uma denúncia contra o tipo de ciência e de tecnologia dominantes na história, desde os alvores da humanidade, quando há mais de 2 milhões de anos surgiu o homo faber, aquele que primeiro utilizou o instrumento para se impor à natureza, passando por vários períodos com suas respectivas revoluções, até chegar aos tempos contemporâneos da engenharia genética, da robótica, da nanotecnologia e da biologia sintética, para culminar na fusão entre homem e máquina.

O que Rose nos mostra é o calvário da Terra e a lenta e progressiva crucificação da vida e da natureza através da tecnociência, posta a serviço da vontade de poder na sua concretização mais crua e cruel no capital/dinheiro.

Mas nem sempre foi assim. Primitivamente, o saber e a técnica estavam a serviço da solidariedade e da partilha, atendendo as demandas humanas e aliviando o peso da vida. Mas, do momento em que surgiu a moeda e ela se fez a mediação exclusiva para todas as trocas e se transformou em mercadoria com preço (juros), se produz uma perversa revolução. Passa-se da cooperação para a competição, do cuidado para a agressividade. O que vige então é o ganha/perde e não o ganha/ganha.

Os senhores do dinheiro assujeitam a si as pessoas, controlam a sociedade e decidem que saber e que técnica cabe desenvolver para reforçar seu poder. Não se produz para a vida, mas para o mercado. Não se inventa para a sociedade, mas para o lucro.

O atual projeto da tecnociência acelerou enormemente a história. Em cem anos, a humanidade caminhou mais do que nos dois milhões de anos anteriores. Essa velocidade estonteou a mente e está gerando uma verdadeira mutação humana, somente comparável àquela ocorrida na evolução biológica multimilenar. Cientistas projetam introduzir nanopartículas na corrente sanguínea do cérebro para gestar uma inteligência supra-humana. Emergiria assim um híbrido de ser humano e máquina, bifurcando a humanidade entre os melhorados e os não melhorados.
É contra esse intento que se insurge, pois ele configura suprema arrogância e atualização da antiga tentação bíblica do ser como Deus.

O ser humano, por mais que queira, jamais superará os limites de sua natureza. Só uma ciência com consciência servirá à vida e garantirá o futuro da Terra. A autora propugna por moedas complementares, por um consumo compassivo e reciclável, por uma revolução radical de dentro para fora e de baixo para cima, no jogo do ganha/ganha, como forma de sair com êxito do cipoal em que nos enredamos.

A frase final de seu brilhante livro é esperançadora: "Quando desistirmos de ser deuses, poderemos ser plenamente humanos, o que ainda não sabemos o que é, mas que intuímos desde sempre".

fonte: O Tempo

sexta-feira, outubro 23, 2009

Remendo novo e roupa velha...

"A Reforma é um Catolicismo que fez dieta."
Caio Fábio

quarta-feira, outubro 21, 2009

Covil de Ladrões

Por: Joaquim Tiago

Certa vez o Profeta de Nazaré da Galiléia fez uma entrada maravilhosa em Jerusalém, o que está registrado no evangelho do ex-cobrador de impostos, o públicano Mateus (cap. 21). O Profeta rumou em direção ao templo, um lugar altamente frequentado e o centro da cidade, o centro religioso de Jerusalém, o centro de várias ações públicas e principalmente comerciais. O grande templo era considerado uma das maravilhas do mundo antigo, construído pelo “gente boa” Herodes que tentou ofuscar a glória do primeiro templo feito por Salomão, isso com a intenção política de agradar a “judeus e romanos”.

Havia muita gente naquele lugar, vinham pessoas de todas as vizinhanças principalmente nos dias de festas tradicionais marcadas no calendário judeu, festas oficiais que vigorava dentro da lei. Todo mundo queria fazer sua “adoração”, cumprir seu voto e agradecer pelo resultado da colheita, pelo nascimento de um filho, o livramento da morte e outros afins.

Neste grande aglomerado de gente não podia faltar ela, a mãe dos negócios “bem feitos”, a progenitora dos burgueses, o encontro dos escambos, também uma das filhas do acumulo, da fartura, e do mercado. É..., Ela mesma: A feira. Neste caso, próximo ao templo, em suas margens, é a grande feira “gospel” de Jerusalém, onde cada pessoa podia comprar sua “adoração”.

Uma feira interessante, neste shopping ao ar livre, tinha-se muitas coisas, de pombas para pobres a carneiros sem defeito para ricos. Existia nesta feira uma figura histórica que fazia sua participação ativamente, ele agia com o câmbio ou como cambista onde nasce o nome da sua mesa de negócios. Jerusalém estava neste tempo sob domínio político e quase cultural de Roma, e numa grande jogada de markting os donos de “gravadoras”, “lojas” só estavam aceitando dinheiro Romano. Isso fez com que todo o povo de Jerusalém, toda redondeza fossem obrigados a trocar a moeda no câmbio para ir até o negociador e adquirir o seu “sacrifício” e fazer sua “adoração”. Uma prisão sócia econômica feita por Roma e aceito pelos sacerdotes que já tinha uma comissão dos cambistas, tudo em nome da boa fé vinda do povo. Para os feirantes de todos os tempo o lucro é o fim que importa, os meios são sempre os meios.

O Profeta de Nazaré não gostou nem um pouquinho do que estavam fazendo e literalmente “chuta o pau das barracas”, quebra tudo, expulsa os mercadores, expulsa os vendedores de “adoração”. O Profeta atrapalha todo negócio, atrapalha todo comércio que se fazia ali naquela feira “gospel” dos crentes de Jerusalém. Imaginem só a situação, o povo aclamando o Nazareno, todos em sua volta, um bando de gente simples, acompanhando o Mestre e repentinamente, quase como uma incitação a revolução, o Rabi se volta contra os lojistas e quebra, sai quebrando tudo. O Rabi Nazareno olha para o povo e olha para esses mercadores e a única revelação de que lhe vêem a mente é: “Covil de Ladrões”. Transformaram a casa do Pai em um buraco onde vocês se escondem e fazem seus negócios abusando da boa fé do povo, da ética e aproveitando do domínio cultural vindo do império. O Profeta de Nazaré em Jerusalém diante da feira “gospel” não foi nem um pouquinho “gospel”. Alguns dos empresários, financiadores de “adoração” possivelmente falaram da seguinte forma: “Esse camarada esta fora da ‘visão’!”. “Esse é contra a ‘visão’!”. E Caifaz com sua turma comentaram horrores, até a morte. Chegaram a conclusão que teriam de encontrar alguma coisa onde podiam pegá-lo, onde ele fosse morto.

E o Profeta continuou ali curando, realizando milagres e atendendo a gente simples. As crianças realmente adoraram, delas veio mesmo o perfeito louvor.

Entendo que o maior problema que tenho com a vida e vejo em outros é a relação com o poder. O que fazer com ele? Como no belo romance de J. R. R. Tolkien em “O Senhor dos Anéis”:
“O Um Anel é o instrumento máximo do poder. Poder esse que até Gandalf preferiu não arriscar, deixando o fardo para Frodo. E cabe ao pequeno hobbit o dilema da saga: ter o poder não é possuir o Um Anel, e sim destruí-lo. Frodo deve então renunciar ao poder porque ele corrompe. Só assim ele será capaz de destruir Sauron.”

Ter uma feira “gospel” e contar com a boa fé dos crentes pode ser o instrumento máximo de poder. O poder do lucro, do reter, da ganância e o da ilusão pensando em “visão”. Mas o que fazer com o poder que corrompe?

A feira era “gospel” mas não era de Cristo, havia “adoração” mas não havia serviço, havia sacrifico, mas não havia entrega. Cristo é entrega, ou o que se entregou. Ele é a renúncia. “Ele renunciou a si mesmo e se entregou por nós”.

Você adora quando serve e entrega e não quando compra e paga pelos pecados. Os pecados já foram pagos e hoje é tudo pela fé e via graça e de graça.

Assim de graça recebeste de graça entregaste.

“Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.” Mt 6:21

segunda-feira, outubro 19, 2009

O QUE VEM PRIMEIRO: A CRIAÇÃO OU A REDENÇÃO?

Por: Caio Fábio

Se o Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo, significa que a criação acontece no ambiente da redenção; e não a redenção acontecendo no ambiente da criação, conforme ensina a teologia.

Segundo a teologia prevalente, Deus criou, e como algo deu errado, Ele deu um jeito de amor nas coisas, enviando Seu Filho para resgatar aqueles que, ouvindo acerca Dele, venham a crer; e, então, se continuarem firmes na fé, que significa estar “firme na igreja”, eles vão para o céu. Mas quem não ouviu, ou ouviu e não “creu” — sendo que estar numa “igreja” é o atestado de que se “creu” —, esse, ou esses muitos (aliás, a maioria absoluta), estão danados num inferno que é visto como um tempo (cronos) sem fim.

Desse modo, a “igreja” é o centro de todas as coisas que concernem ao céu e ao inferno, assim como ela é a parte da humanidade que está salva e tem a obrigação de fazer a outra parte ouvir, aceitar, e entrar para a “igreja”, a fim de ser realmente salvo.

É de tal sorte o narcisismo da “igreja”!

Essa é a idéia que habita o inconsciente e o consciente da “igreja” e do “cristianismo”. E é também essa idéia que prevalece nas três religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

Nesse caso, por mais que Deus ganhe, somente Ele pode explicar como ganhou alguma coisa, visto que a maioria absoluta de Suas criaturas vai direto para o inferno. A menos que a alegria de Deus fosse feita das gargalhadas do diabo.

Entretanto, essa é a simples implicação de ser crer que o Deus Criador é um, e que o Deus Redentor é outro; ou que a Graça comum é uma, e a Graça especial é outra; e que os filhos de criação de Deus são todos os perdidos, e os filhos salvos são apenas os que se tornaram cristãos.

O resultado de se crer que há uma dualidade entre criação e redenção, na prática, é aquilo que nós chamamos de História da Igreja. E essa História declara apenas o desastre de tal visão do mundo. Na realidade, pode-se dizer que a História do Ocidente, e por extensão de influência e poder, de todo o mundo — é a História de como tal visão de um mundo dual pode acabar com a Terra; como hoje se vê.

Entretanto, se o Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo, o mundo foi criado no ambiente da Redenção; e não o contrário. Ora, tal percepção desconstrói por inteiro o edifício da teologia cristã e acaba com o poder Imperial que a “igreja” tomou para si, desde Constantino.

Além disso, toda a narrativa bíblica ganha sentido; visto que os desastres da criação e as catástrofes humanas — da Queda até hoje —, fazem parte da redenção em processo na criação; sendo que essa redenção é um ato-processo que visa levar a criação e o homem à plenitude deles mesmos; o que só poderia acontecer numa criação que exista já dentro da ambiência da Graça Única.

Se o Cordeiro não fez Sacrifício antes de criar, tudo o mais acontece como remendo de pano novo em veste velha; o que se choca com o modo de Jesus agir. E Ele disse: “Eu e o Pai somos Um”.

Na realidade a visão que a teologia cristã tem da Queda e da Redenção é a de “remendo de pano novo em vestes velhas”. É por isto que não pode jamais dar certo; como jamais deu.

Quem, porém, crê que tudo o que existe já foi chamado à existência no ambiente da Graça, esse nunca mais vê o mundo do mesmo modo; e, em sua mente, jamais a visão das coisas é a mesma.

Mas como tenho dito, as implicações de tal percepção estão para além daquilo que a “igreja” deseja, ou concebe aceitar para si, visto que ela teria que morrer, para poder dar muito fruto.

Somente se na “igreja” houvesse o mesmo espírito que houve também em Cristo Jesus, o qual se esvaziou, se identificou, e não buscou ser nem mesmo quem era (Deus), é que poderia haver algum significado para ela nesta existência ainda. Do contrário, ela não terá qualquer contribuição espiritual a dar à humanidade.

Enquanto isto, os planos de Deus não são frustrados, e Seu Espírito segue abraçando a todas as criaturas; e continua derramando Graça sobre todos os homens,em todos os lugares, segundo a Ordem de Melquisedeque; pois, tudo e todos os que existem, já estão designados para voltarem para Ele; pois, pelo Seu sangue, Ele reconciliou consigo mesmo todas as coisas; as quais, já foram criadas sob o signo da reconciliação eterna realizada pelo Cordeiro antes de todas as criações.

Tal visão, entre outras coisas, nos levaria a tratar da criação como quem ministra um sacramento!

No dia em que a visão da fé for a de que a Criação aconteceu no ambiente da Redenção e da Graça, nesse dia, o culto será a vida e a vida será o culto; e a catedral será a existência toda; pois, tudo já é nosso, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas do presente ou do porvir; tudo é nosso, e nós de Cristo, e Cristo de Deus.


Nele, em Quem tudo é e todos são,

Caio
(Escrito em 2006)

domingo, outubro 11, 2009

Pós Modrnidade e Modernas Instituições



Pós-modernidade e proclamação

Por: Paulo Brabo

Eu posso estar redondamente enganado
eu posso estar correndo pro lado errado
Mas a dúvida é o preço da pureza
E é inútil ter certeza
Infinita Highway – Engenheiros do Hawaii


(...)

QUEM É O BICHO E QUANTAS CABEÇAS ELE TEM

Quem fala em pós-modernidade está dividindo a história da civilização, muito grosseiramente, em três grandes períodos: a era pré-moderna, a era moderna e a era dos nossos dias – esta que, na falta de um nome melhor, convencionou-se chamar de “pós”.
A primeira era, a pré-modernidade, começou com o primeiro homem e estendeu-se a até algum momento do século XVIII. Durante todo esse período o ser humano manteve-se, basicamente, um bicho místico. A vida estava além do controle do homem e só podia ser explicada em termos sobrenaturais. Em geral não ocorreria a ninguém duvidar da realidade do mundo dos espíritos ou de coisa que o valha (digamos, o imaterial mundo das idéias de Platão), e todas as soluções aos problemas do ser humano dependiam da boa vontade de Deus ou deuses.
Perto de 1700 a modernidade fincou pé. A Renascença deu a primeira, o Iluminismo a segunda e definitiva estocada que tiraram Deus do centro das atenções e colocaram ali o homem e os esforços humanos – particularmente a razão. A principal característica da era moderna é a sua suprema confiança na mente humana. Gente como Descartes gravou a ferro e fogo na mentalidade ocidental a noção de que a razão é o único caminho para o conhecimento, e toda a era moderna partiu do pressuposto de que a razão e a ciência (aplicadas em todas as áreas: saúde, política, urbanismo, ética) trariam as soluções necessárias para os problemas da humanidade. O sensato slogan da nossa bandeira brasileira, “Ordem e Progresso”, é tipicamente moderno em seu otimismo na iniciativa humana fundamentada no triunfo da sensatez e da razão.
Foi ao redor de 1960 que a maré começou a mudar. Coisas como a crise de energia, a teoria da relatividade, a guerra do Vietnã, a bomba de Hiroshima e os abusos do consumismo contribuíram para que as pessoas passassem gradualmente a concluir que a razão humana talvez não trouxesse, como prometera, respostas para os anseios mais profundos do mundo e do homem. Trezentos anos da supremacia da razão não haviam trazido nenhuma solução unânime para os problemas da guerra, da fome, da injustiça, do vazio existencial. A razão, concluíram esses, fracassara, e diferentes grupos independentes começaram a tatear em todas as direções em busca de alternativas. A revolução sexual, mística e química trazidas à luz pelos hippies dos anos 60 foram os primeiros movimentos que pressupunham essa desconfiança pós-moderna para com as soluções otimistas e pré-fabricadas da era anterior.
A pós-modernidade que se levantou das cinzas da modernidade é tremendamente difícil de definir – entre outras coisas, porque definição é conceito tipicamente moderno e pertence a uma era anterior. Pode-se dizer com segurança que o homem pós-moderno é ao mesmo tempo cético, espiritual e tolerante. Ele duvida da eficácia da razão, do pensamento linear, da lógica convencional, da explicação racional. Ele está portanto aberto a todas as formas de misticismo e religiosidade, mas não apostará na validade definitiva de nenhuma, porque crê que todas contém a sua parcela de “verdade” e nenhuma pode ter a pretensão de se posicionar como verdade definitiva – possibilidade que arruinaria a validade e a beleza das outras alternativas.
A indomável mentalidade desta era pode ser mais facilmente compreendida se considerarmos a forma de arte mais tipicamente pós-moderna: o videoclipe. Os primeiros vídeos de música eram “modernos” no seu caráter linear – contavam “historinhas” com começo, meio e fim. Mas logo os produtores de videoclipes adotaram uma linguagem mais radical, menos linear e mais fragmentária. Um videoclipe é um amontoado de imagens que não necessariamente contam uma história ou têm qualquer relação entre si; não têm uma “explicação”. Seu sistema é a ausência de um sistema. A idéia é passar uma impressão, e não deixar alguma coisa absolutamente clara.
Filme é coisa moderna. Videoclipe é cria pós-moderna.


A IGREJA E O BONDE DA PÓS-MODERNIDADE

Uma pergunta importante: por que que a igreja cristã não estava pronta e presente para acolher esses “filhos desiludidos” da razão e da modernidade logo que eles começaram a pipocar na década de 1960? Por que os hippies não se voltaram para a fé cristã quando precisaram satisfazer o seu anseio por uma espiritualidade real?
A resposta curta é que a igreja cristã havia, ela mesma, se dobrado no altar do modernismo. O discurso da supremacia da razão havia sido tão longo e eloqüente que até mesmo os cristãos tinham caído no logro da sua pregação. A igreja cristã havia de alguma forma adotado a noção paradoxal de que tudo a respeito da fé pode ser explicado e exposto racionalmente, inclusive as imponderabilidades da criação e da salvação.
A própria Bíblia havia caído vítima dessa ênfase excessiva na razão humana. Complicadas fórmulas eram e são utilizadas para provar que a escritura cristã faz sentido racional e é espelho fiel da realidade científica. Em 1793, Kant publicava A religião apenas dentro dos limites da razão, e quase duzentos anos depois Josh McDowell articulava ainda uma defesa racional da divindade de Cristo, demonstrando por A + B que a fé cristã é a escolha mais sensata na prateleira.
O problema é que, adotando essas interpretações racionais, a igreja confessava que a ciência e o racionalismo são os critérios pelos quais a realidade deve ser julgada.
Quando começaram a buscar onde saciar a sua terrível sede pelo espiritual e pelo místico, as pessoas foram forçadas a concluir que a fé cristã era simplesmente racional demais para interessá-las – e a igreja perdeu assim o bonde da pós-modernidade.


A QUE POSSO COMPARAR?… A BÍBLIA, JESUS E O FRAGMENTÁRIO MÉTODO PÓS-MODERNO

Chamar a Bíblia de pós-moderna seria anacronismo, mas creio que pode-se com segurança afirmar-se que os escritores bíblicos não tinham uma mentalidade moderna; não criam na supremacia da razão nem na superioridade da exposição linear e dos sistemas racionais.
Jesus, por exemplo. Para escândalo e perplexidade dos teólogos, Jesus não chegou nem perto de expor a sua teologia de forma sistemática. Tudo que ele deixou a fim de transmitir a sua mensagem foi o seu exemplo, um punhado de histórias curtas e uma longa série de frases de efeito, sendo que cada um desses elementos não parece sustentar qualquer conexão imediata com os outros. Para seus ouvintes e leitores tudo que o discurso de Jesus deixou foi uma série livre de imagens sem qualquer ordem ou prioridade particular: um videoclipe do reino, por assim dizer.
Jesus não fez uma série de conferências, não expôs as quatro leis espirituais, não definiu predestinação nem trindade, não pregou teses na porta do Templo, não apresentou uma vez que fosse o plano da salvação. Ao invés de apresentar um cenário racional e ordeiro, uma visão geral seguida por definições, demonstrações e apêndices, tudo que ele fazia era coçar a barba e dizer: “A que posso comparar o reino?…”
Isso não impedia, naturalmente, que as pessoas saíssem dali saltitando a sua conversão.
Os escritores bíblicos também não compartilhavam do nosso horror tipicamente moderno/racionalista à contradição. O livro de Gênesis, por exemplo, parece narrar a criação de duas formas contraditórias, e até a ascensão do modernismo isso nunca foi motivo de escândalo para ninguém. É racionalista até mesmo o esforço tradicional em conciliar as duas versões. Parece absurdo à mente moderna considerar que as duas possam ser ao mesmo tempo diferentes e verdadeiras: isso seria na nossa opinião relativizar a verdade. Os escritores bíblicos provavelmente chamariam a mesma coisa de transmitir uma profunda verdade espiritual.
Como não estava preso aos nossos escrúpulos com a racionalidade, Jesus sentia-se livre para dizer coisas como “Eu sou a luz do mundo” sem temer ser apanhado em contradição com a “verdade” científica de que a Terra é iluminada pelo sol e não por Jesus. Não é como se a realidade espiritual contradissesse ou relativizasse a realidade científica da importância do sol. Não há relativização aqui, embora as duas coisas sejam verdade ao mesmo tempo.
Ainda mais revelador é o fato de Jesus ter afirmado ser, ele mesmo, a Verdade com letra maiúscula – tirando dessa forma para sempre a verdade do domínio da razão. Se a verdade é uma pessoa ela não tem como ser comprovada ou refutada pelo método científico. Uma pessoa pode ser no máximo abraçada e experimentada, nunca explicada racionalmente.
A Bíblia traz um convite para nos relacionarmos pessoalmente com a verdade, e não um tratado para a comprendermos racionalmente.
Coisas que têm, definitivamente, um sabor pós-moderno.


A PROCLAMAÇÃO NO IDIOMA DA PÓS-MODERNIDADE

Como pregar-se com um barulho desses? Como transmitir-se a verdade para quem não acredita numa verdade definitiva?
Em primeiro lugar pode ser útil reconhecer que, como a Verdade que temos a transmitir é uma Pessoa e não uma série sensata de proposições racionais, o cristianismo pode encontrar no terreno da pós-modernidade uma tremenda vantagem. Podemos resgatar tranqüilamente “a insensatez do evangelho” e o “escândalo da cruz”, porque não precisamos mais fingir que a razão e a verdade científica são as verdadeiras medidas da realidade. Jesus é muito mais luz do mundo do que o sol jamais chegará a ser.
Quando bate o pé afirmando que não existe uma verdade definitiva, o homem pós-moderno está falando basicamente de uma verdade racional. Uma verdade relacional tem tudo para chamar a sua atenção. E ele certamente vai gostar de ouvir que a letra mata e o espírito vivifica.
Mas de que forma, você pode perguntar, se transmite uma verdade-pessoa?
Isso, meu caro, é problema seu. Ninguém sabe exatamento como, mas parece seguro que teremos de acabar abrindo mão de todas as abordagens convencionais (todas elas racionalistas e “modernas”) de evangelização.
Robert Nash Jr. faz uma série de generalizações a respeito da proclamação do Reino no idioma da pós-modernidade:
  • o desafio requer verdadeira espiritualidade;
  • cruzadas evangelísticas e séries de conferências, como praticadas na maior parte das igrejas, são relíquias antiquadas de uma visão de mundo “moderna” em declínio;
  • o conceito racionalista e mercantilista de “plano da salvação”, desenhado para atingir-se o maior número de pessoas no menor tempo do possível, está definitivamente ultrapassado;
  • ser cristão tem de ser mais do que evitar-se a punição do inferno;
  • a igreja deve parar de fazer declarações proposicionais a respeito de Deus enquanto ignora a necessidade que as pessoas têm de uma experiência com ele;
  • os cristãos devem parar de “convidar as pessoas para ir à igreja” e começar a convidar as pessoas a conhecerem Cristo através delas.
Acredito que, no fim das contas, a grande questão é se fazer presente e relevante para o mundo. As palavras de ordem são disponibilidade e relevância. A cultura evangélica convencional exige que o cristão se disponibilize incessantemente para a instituição; esse ascetismo nos mantém à salvo da nossa missão e do contato com o mundo. Fomos convidados para nos disponibilizarmos, mas para o mundo, não para uma rotina circular. As rodas de samba, grupos de teatro, salas de aula, salas de chat, blogs, escolas de natação, vestiários, cursos de vendas e cozinhas industriais precisam de gente-cristãos que façam diferença – menos por serem diferentes das pessoas do que por fazerem diferença para as pessoas.
Hoje em dia faz mais sentido contar histórias do que expor argumentos infalíveis. Ir com o amigo ao cinema ou a um pesque-pague do que abrir o livrinho com as quatro leis espirituais. Silenciar e permanecer ao lado do que falar pelos cotovelos e sumir imediatamente da vida do sujeito depois de desincumbir-se da tarefa de vender a nossa enciclopédia salvífica. Trata-se por certo mais de trazer o Reino para perto das pessoas do que tentar arrastá-las para onde afirmamos que o Reino está confinado.

quarta-feira, outubro 07, 2009

O bicho


por: Paulo Brabo

(…)

Esse processo de se tornar um indivíduo é, aparentemente. muito custoso – tão custoso que preferimos investir todos os recursos disponíveis em evitar enfrentar essa batalha de frente.

Salvo engano, é por essa razão que gastamos tanto tempo investindo num egocentrismo que é, paradoxalmente,autodestrutivo. Quando nos fixamos na satisfação do ego, seja na glorificação da imagem pessoal ou na satisfação dos apetites,acabamos sendo privados do raro prazer de descobrir quem de fato somos.

A farsa mais poderosa do egocentrismo está em que ele acena com a ilusão de que estamos pensando sobre nós mesmos e buscando a nossa própria satisfação, quando estamos na verdade sendo prisioneiros dos outros e da sua vontade.

O problema essencial com o pecado está em que ele consiste em condutas e posturas que nos parecem tão evidentementevantajosos para a satisfação do ego – mas que são cuidadosamente planejados por regiões sombrias de nós mesmos de modo a impedir que cheguemos ao conhecimento de quem realmente somos.

O que a individuação requer é que deixemos de lado todos os confortos, ilusões e subterfúgios e encaremos de frente o vazio. A realidade a seco, sem gelo.

Qualquer coisa que se interponha nesse processo de individuação (“para que vocês sejam um”) é o que se chama em outro lugar de pecado.



O Filho do Homem


por: Vinicius de Morais

O mundo parou

A estrela morreu

No fundo da treva

O infante nasceu.


Nasceu num estábulo

Pequeno e singelo

Com boi e charrua

Com foice e martelo.


Ao lado do infante

O homem e a mulher

Uma tal Maria

Um José qualquer.


A noite o fez negro

Fogo o avermelhou

A aurora nascente

Todo o amarelou.


O dia o fez branco

Branco como a luz

À falta de um nome

Chamou-se Jesus.


Jesus pequenino

Filho natural

Ergue-te, menino

É triste o Natal.


Natal de 1947
O poema acima foi extraído do livro “Antologia Poética”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1960, pág. 215.

sábado, outubro 03, 2009

Natureza de Exploração


Por: Joaquim Tiago


Quem criou o mundo em que vivemos?

Qual deles? O mundo natural ou o da natureza dos homens?

O homem não criou a natureza física em que vivemos. É parte dela e dela aproveitou para manipular seus elementos. Mas com que natureza de espírito agiu assim?

Durante muito tempo o homem sabia que não podia enfrentá-la e por isso vivia-se numa parceira circular, sabendo dar e receber. Mas como que seguindo o instinto de natureza “terrena” resolveu dar o mínimo e tirar bem mais do que pode. Assim aprendeu a reter e negociar.


O homem moderno criou um “novo mundo”.

O novo mundo deu ao homem uma nova natureza de ser (existir). “Fazendo-se de sábios tornaram-se loucos”. Conquistar, insurgir, dominar, forjar, explorar e ter domínio da razão.

O nosso novo mundo onde vivemos não é tão natural, é sim artificial. Não participamos compartilhando, participamos usufruindo e consumindo. Essa é a consciência que nos resta e aponta para o fim da história.


Seu mundo

Nosso novo mundo é nosso em cada pedaço, de cada fatia e agora multifacetado em pequenas ideologias (rimou).

Chegamos ao absurdo onde cada um tem seu próprio mundo. Seu mundo é onde vivência e faz suas próprias leis “terrenas”. Assim estamos em um mundo de vários mundos, de várias faces e de cada contexto vazio e pequeno; porém defendido e entrincheirado. Por isso é que vivemos a guerra do cotidiano, “cada por si, e deus em nenhum” !

O mundo em que vivemos é o meu mundo e essa é a minha natureza.

Quem esta no mundo do meu mundo? Eu mesmo!

Eu mesmo faço parte dele e quem quiser entrar tem que pagar ingresso. Cada um quer para si aproveitar do outro.


Eu, eu mesmo e meu mundo

A natureza dos homens não é mais humana. O humano é que ficou cativo ao individuo, subjugado ao vícío de seu próprio ego. O ser que é só, solidão.

A natureza dos homens agora é apenas terrena, termina aqui sem infinito.

Nesta consciência de si a natureza é feita para explorar, é uma natureza de exploração que da sentido a vida que sou em meu pequeno e insignificante mundo.

O homem abraçou a morte em vida onde se cuida e preserva o passageiro em detrimento ao eterno.

Se existe outro mundo que requer outra natureza de vida o que faremos com essa? O que faremos com esse eu e pensamento que também me explora e me escraviza?


“Eles não são do mundo, como eu também não sou.” Cristo – Jo 17:16

terça-feira, setembro 22, 2009

A rede das palavras

por: Rubem Alves

Sabia que a religião é uma linguagem?
Um jeito de falar sobre o mundo...
Em tudo, a presença da esperança e do sentido...
Religião é tapeçaria que a esperança constrói com palavras.
E sobre estas redes as pessoas se deitam.
É. Deitam-se sobre palavras amarradas umas nas outras.
Como é que as palavras se amarram?
É simples.
Com o desejo.
Só que, às vezes, as redes de amor viram mortalhas de medo.
Redes que podem falar de vida podem falar de morte.
E tudo se faz com as palavras e o desejo.
Por isto, para se entender a religião, é necessário entender o caminho da linguagem.

“...e havia trevas sobre a face do abismo e um vento impetuoso soprava a superfície das águas.
E disse Deus: ‘_ Haja luz.’ E houve luz...”
“No princípio era a Palavra.”

fonte: ALVES, Rubem. O Suspiro dos Oprimidos; pg. 5 - Ed. Paullus; 1987

segunda-feira, setembro 21, 2009

O risco religioso

Alexandre

por: Bráulia Ribeiro


Conhecíamos Alexandre há mais de cinco anos. Chegou com 20 e poucos, com o cérebro já detonado pelo crack. Durante o curso de discipulado foi alcançando coerência, e, ao fim de seis meses, voltou à sua casa para fazer vestibular, ciente do que queria: ser piloto missionário. Terminou o ensino médio, inspirou o pai a estudar e fizeram vestibular juntos. O pai passou em direito — Alexandre, ainda tratando de ser lúcido, não.


Vieram outras crises; a razão saía por uma fresta da janela, ficava uma algaravia religiosa indecifrável. Nas crises, ele nos visitava para longas conversas. Nunca foi mau o rapaz. Eu sempre lhe sabia gentil, apesar das incoerências. Meu marido tinha ouvidos para lhe decifrar as angústias no meio da verborragia. Aconselhava, ouvia.


Nos últimos meses, Alexandre começou a observar minha filha que se tornava menina moça e a notar-lhe a beleza florescendo. Ligava às três da manhã falando da menina que vira no balanço, de suas amiguinhas, do toque puro que lhe deu na perna, de como Deus ama os anjos. Meu instinto de mãe se põe de guarda. Aviso às coleguinhas e, quando Alexandre vem, eu o acompanho ao redor da floresta que circunda a comunidade.


Na terça-feira a bicicleta com adesivo Yokohama para na minha porta. Nesse dia Reinaldo está com pressa. Explica pro Alexandre:


– Tô de saída. Tenho reunião com pastores na cidade.


O rapaz insiste, mais transtornado que nunca na esperança absurda que tem em Reinaldo.


– Você é meu pai, meu pastor, eu preciso de você.


Reinaldo começa a se irritar. Explica que não dá. Alexandre implora.


– Deixa eu voltar pra viver aqui com vocês.


– Como? Você se droga, anda por aqui observando nossas crianças e me liga de madrugada falando nelas. Como posso confiar pra te deixar morar aqui?


– Não vou fazer nada com elas, só quero ser como elas, nascer de novo numa família de Deus, Reinaldo. Eu quero ser de Deus e não sei como, será que elas me ajudam?


– Hoje não posso. Tô atrasado demais. Olha, já fizemos tudo o que podíamos por você. Agora acabou.


– Como acabou? Não acaba não, olha.


E mostrou um rolo de papel higiênico que tinha nas mãos.


Reinaldo se irritou com aquele rolo — me contou depois –, mesmo assim segurou a ponta enquanto o menino desenrolava lentamente tirando de dentro uma Bíblia pequena amarfanhada, pra ler o Salmo 136.


– Olha o que a Bíblia fala: “Rendei graças ao Senhor, porque seu amor dura para sempre”.


E assim foi lendo parado no sol quente ao lado do carro o Salmo todo enquanto Reinaldo tentava lhe dizer que estava atrasado, que era pastor, que conhecia a Bíblia, que voltasse depois ou nem isto.


Foi-se o pastor pra reunião e o garoto em desespero para a estrada quente de bicicleta. Reinaldo disse que ainda o viu quando voltava, pedalando, percebendo o carro, mas nem o parou de novo como seria seu costume. Virou o rosto como se dissesse: “Olhe, você, meu pastor, falhou, me trocou por uma reunião, não me ouviu, deixou que seu amor acabasse, sendo que o amor de Deus nunca acaba”.


Acabou também naquela tarde a história de Alexandre e sua busca por Deus. Na manhã seguinte sua irmã nos ligou, chamando para o velório. O rapaz se matou na tarde anterior nas rodas de uma carreta de carga depois de duas outras tentativas. Choramos eu e Reinaldo muitas lágrimas de angústia, desespero e culpa, e ainda choro enquanto escrevo isto. Por nós, e por todos os Alexandres da vida que encontram na rua os levitas e não os samaritanos.


• Bráulia Ribeiro, missionária em Porto Velho, RO, é autora de Chamado Radical. braulia.ribeiro@uol.com.br

fonte: Ultimato