terça-feira, maio 12, 2009

"Há tempos"


Por: Joaquim Tiago
(...) //E há tempos nem os santos têm ao certo/ A medida da maldade/ Há tempos são os jovens que adoecem/ Há tempos o encanto está ausente/ E há ferrugem no sorriso/ E só o acaso estende os braços/ A quem procura abrigo e proteção./ Meu amor, disciplina é liberdade/ Compaixão é fortaleza/ Ter bondade é ter coragem/ E ela disse:/ -Lá em casa tem um poço mas a água é muito limpa.(Trecho da música Há Tempos – Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá)

O tempo já não é mais o mesmo!

Ele passou, com ele foram muitos sonhos e ilusões. Quem consegue recordar, ter lembranças de como no passado tínhamos o que não temos hoje?

Talvez o encanto esteja realmente ausente. Durante muito tempo realmente havia esperança no progresso, no futuro e na razão. Onde é que chegamos, onde fomos parar com tudo isso, a evolução deste tempo perdido.

Somos as pessoas do tempo, aprendemos a contá-lo e a observá-lo, ficamos esperando até o último minuto, até quando der, quando não temos mais tempo.

Somos as pessoas que vivem do agora, tudo pra ser feito já, tudo neste momento tem que ser para que o acaso vá embora e eu possa ter acesso ao significado para transitar.

Quem nunca sonhou? Eles estão dentro de nós fingindo dar esperança, criando espaço para cairmos naquilo que faremos para termos. Faremos num certo tempo o que nos foi ensinado para sermos, pessoa temporal. Por que queremos mesmo nesse momento o que pensamos que seremos?

Somos todos contemporâneos deste mesmo tempo. Qual a nossa característica e qualidades? Em muitas vezes está preso a ele, o próprio tempo! Tornamos-nos pessoas temporárias. Você já teve tempo para pensar nesta vida sobre esse desperdício.

Temporal, evoluído, moderno e racional! Uma razão para acreditar no futuro que se faz agora. Quase ninguém mais acredita no que vai ser no fim. Quase ninguém mais acredita no eterno! Preferimos o abraço do acaso para conseguirmos abrigo.

O temporário é secular (de século em século), materialista, civil, humano, mundano, leigo, profano. Para ideologia do secularismo nada mais é eterno e “tudo” que pertence ao homem (incluindo o prazer) é para ser (vivido) agora, num tempo como este.

Preferimos então ideologicamente coisas seculares como músicas, amizades, bandas, “igrejas”, “orações”, ações e perseguições. Somos “tribalistas e não queremos confusão”, preferimos ser aceitos de alguma forma para que essa vida tenha sentido, mesmo que relativo, por que o tempo agora também é.

Não temos mais ao certo a medida da maldade e vamos teorizando por que podemos e temos permissão para crer no que é certo, no que é bom para nós.

Para que pensar no eterno se aparentemente podemos resolver tudo agora ou pagarmos alguém para nos contar uma história que nos convença de que perfeito é esta transitoriedade humanista e egoísta.

“Há tempos são os jovens que adoecem”, há tempos perdido de mais, há tempo deixei para trás o sorriso que me encantava, a simplicidade de ser criança e brincar de achar o esconderijo do amigo. Será que ainda há tempo para voltar atrás? Tempo para sonhar novamente com o retorno do encanto, para transcender, para acreditar, para parar e fazer uma oração, crer e ter fé no eterno.

Será que já não adoecemos de mais? Ou ainda há cura pro sorriso, para virtude, para meu tempo contemporâneo secular existencialmente perdido?

Vou ficar com as ultimas palavras e penso que podemos estender mais essa fala, mas por enquanto entenderemos assim:
“Meu amor, disciplina é liberdade/ Compaixão é fortaleza/ Ter bondade é ter coragem”.

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