quinta-feira, junho 18, 2009

SOCIALISMO, CONTRADIÇÕES E PERSPECTIVAS



Por: Frei Betto

O socialismo é estruturalmente mais justo que o capitalismo. Porém, em suas experiências reais não soube equacionar a questão da liberdade individual e corporativa. Cercado por nações e pressões capitalistas, o socialismo soviético cometeu o erro de abandonar o projeto originário de democracia proletária, baseado nos sovietes, para perpetuar a maldita herança da estrutura imperial czarista da Rússia.
Não surpreende, pois, que o socialismo real tenha ruído na União Soviética, após 70 anos de vigência. Com o excessivo controle estatal, não conseguiram oferecer à população bens de consumo elementares de qualidade, mercado varejista eficiente e uma pedagogia de formação dos propalados "homem e mulher novos".
O socialismo caiu no engodo do capitalismo ao projetar o futuro da sociedade em termos de produção, distribuição e consumo. O objetivo dos dois sistemas se igualou.
O socialismo só se justifica, como sistema e proposta, na medida em que tem por objetivo, não o bom funcionamento da economia, e sim das relações humanas: a solidariedade, a cooperação, o respeito à dignidade do outro, o fim de discriminações e preconceitos.
Nesse cenário, Cuba é uma exceção e um sinal de esperança. O regime cubano é destaque no que concerne à justiça social. Prova disso é o fato de ocupar o 51º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) estabelecido pela ONU (o Brasil é o 70º) e não apresentar bolsões de miséria (embora haja pobreza) nem abrigar uma casta de ricos e privilegiados. Se há quem se lance no mar na esperança de uma vida melhor nos EUA, isso se deve às exigências, nada atrativas, de se viver num sistema de partilha. Viver em Cuba é como habitar um mosteiro: a comunidade tem precedência sobre a individualidade.
Quanto à liberdade individual, jamais foi negada aos cidadãos, exceto quando representou ameaça à segurança da Revolução. Jamais as denominações religiosas foram proibidas, os templos fechados, os sacerdotes e pastores perseguidos por razões de fé. A visita do papa João Paulo II à Ilha, em 1998, e sua apreciação positiva sobre as conquistas da Revolução, mormente nas áreas de saúde e educação, o comprovam.
No entanto, o sistema cubano dá sinais de que poderá equacionar melhor a questão de socialismo e liberdade através de mecanismos mais democráticos de participação popular no governo, de interação entre Estado e organizações de massa, maior rotatividade no poder, para que as críticas ao regime possam chegar às instâncias superiores sem serem confundidas com manifestações contrarrevolucionárias.

Frei Betto é escritor, autor de Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira, que a editora Rocco faz chegar este mês às livrarias.
Fonte: Revista Caros Amigos junho 2009 -
http://carosamigos.terra.com.br/

Um comentário:

  1. o frei ai ta falando de qual socialismo??? o da utopia marxista?? de qual cuba?? sério mesmo...

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