“O Filho do homem não veio a terra para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos” – disse Jesus. As palavras “resgate,“redenção” são sinônimas de libertação na Bíblia, por que o próprio conceito de resgate esta atrelado a alforria da escravidão, à aquisição da própria liberdade. Como outrora Iahweh salvara Israel e dele fizera o “seu povo”, assim a Igreja da Nova Aliança deve torna-se o “povo que Deus libertou”.
Mas o resgate, ou, como dizem os cristãos, a redenção, é algo ainda maior, é o retorno da Criação ao caminho traçado pelo Alto. Prisioneira do mal, a Criação, segundo as palavras de Paulo, “sofre e geme à espera da manifestação dos filhos de Deus”. O homem redimido não é retirado da Criação, mas a precede no caminho para os “céus novos e a terra nova”.
A chama do logos arde “nas trevas”, juntando-se lentamente ao mundo. Ao nosso reino de luta e divisão, Deus leva a força vitalizante da unidade, da harmonia e do amor. Como uma planta que se ergue em busca do Sol, a natureza toda está atenta ao chamado da Palavra.
Quanto mais o homem moderno toma conhecimento do nascimento do universo, mais claro fica para ele o quadro da Criação que sobe para o Alto como pelos degraus de uma escada. Com efeito, antes foram fincadas as estruturas, depois se início a vida e finalmente nasceu o homem. A luta não conhece trégua, a cada passo a serpente retrocede nas trevas e o esplendor se amplia.
Quando o homem renegou o desígnio de Deus sobre ele, a mesma Palavra se manifestou encarnando-se no “NOVO ADÃO”.
“Deus amou de tal modo o mundo, que deus o deu filho único”. Mas esta auto imolação de Jesus não podia deixar de ser uma tragédia. Aquele que entrou a fazer parte do mundo corrupto tornou-se necessariamente co-participante do sofrimento dele; desde então, a dor de todo ser será sempre a sua dor, o seu Gólgota. Entre os homens, o filho de Deus não encontraria triunfos, mas o sofrimento e morte. Embora sendo sem pecado, ele tomou sobre si todas as conseqüências do pecado (...).
“Quem, pois, acreditará no que ouvimos? A quem se poderá revelar o poder de Iahweh? Ele brotou como um rebento diante do seu rosto, com uma vergôntea da raiz fincada na terra árida. Não possuía nem aspecto, nem imponência que nos atraíssem para ele, nem magnificência que nos fascinasse. Ele foi desprezado e repudiado pelos homens, homem das dores que bem conhece o sofrimento, e nós não tivemos por ele qualquer estima, pensamos que fosse um paria. Mas ele havia tomado sobre si as nossas fraquezas, carregava o peso dos nossos males. Nós o julgávamos atingido, castigado e humilhado por Deus e, no entanto, ele fora ferido pelos nossos pecados, fora espancado pelas nossas iniqüidades. Sobre si ele tomou a punição para nossa salvação, fomos curados por suas feridas. Todos nós estávamos perdidos, cada um na sua estrada, como ovelhas abandonadas, mas Iahweh tomou sobre seus ombros o peso dos nossos pecados. Atormentado, foi manso; em meio aos suplícios, não abriu a boca. Como um cordeiro”. levado ao sacrifício, com ovelha diante dos tosquiadores, ele também não abriu os lábios...”. (...)
Jesus explica a sua missão referindo-se exatamente a esta profecia sobre o servo de Iahweh: “HOJE SE CUMPRIU ESTA ESCRITURA DIANTE DE VÓS”. (...)
Por amor a liberdade do homem, ele se encerrou no cárcere de um corpo, tornou-se naqueles dias “inferior ao Pai”, precisou de alimento e repouso, escondeu a si mesmo o futuro e viveu em si todo sofrimento do mundo. Tornou-se carpinteiro de uma cidadezinha de província, cercado por gente ignorante que trazia amiúde marcas evidentes do pecado; passou os seus dias na companhia de pobres, excluídos, pescadores e leprosos. Ele não possuía corpo de guarda nem conselheiros influentes. Poderia aquele homem ser realmente o Messias que o povo havia sonhado e esperado durante séculos?
MIEN, Aleksandr, 1935-1990 - Jesus, mestre de Nazaré: a história que desafiou 2000 anos; pág(s). 173 a 175 . Ed. Cidade Nova, 1998.
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